Artigo

O Equilíbrio em Processos de Parcelamento do Solo Irregular

ação civil pública, advocacia ambiental, auditoria ambiental, defesa administrativa, multa ambiental
Por Adivan Zachet e Tiago Martins

 

 

O parcelamento do solo é uma atividade complexa que demanda planejamento, cumprimento de normas e responsabilidade por parte dos empreendedores.

No entanto, situações de parcelamento do solo irregular podem ocorrer, resultando em processos administrativos. Nesse contexto, é fundamental que a defesa em tais processos esteja embasada em argumentos sólidos e na observância das disposições legais.

Análise da Regularidade do Parcelamento do Solo Irregular

Ao receber a notificação de abertura do processo administrativo, é essencial que a defesa realize uma análise criteriosa da regularidade do parcelamento. Isso envolve a verificação do cumprimento de todos os requisitos estabelecidos pela Lei 6.766/1979, como a existência de infraestrutura básica (vias de circulação, escoamento das águas pluviais, abastecimento de água, energia elétrica, entre outros) e a devida aprovação e registro do parcelamento junto ao cartório de registro de imóveis competente.

Além disso, durante o processo administrativo, é fundamental que a defesa esteja atenta aos prazos estabelecidos pela legislação. Isso inclui o prazo para apresentação de defesa e recursos, bem como o cumprimento de eventuais determinações e exigências feitas pelo órgão competente. O não cumprimento dos prazos pode resultar em prejuízos para a defesa, inclusive a aplicação de penalidades previstas em lei.

A defesa deve buscar a produção de provas que demonstrem a regularidade do parcelamento ou, quando cabível, atenuem as possíveis irregularidades identificadas. Isso pode envolver a apresentação de documentos, laudos técnicos, pareceres jurídicos, fotografias, entre outros elementos que possam comprovar a adequação do empreendimento às normas estabelecidas.

Destarte, a defesa em processos administrativos de parcelamento do solo irregular deve estar embasada em uma sólida argumentação jurídica. Isso implica conhecer e invocar os dispositivos legais pertinentes, como os artigos da Lei 6.766/1979 e demais normas urbanísticas aplicáveis.

É importante destacar também princípios fundamentais do ordenamento jurídico, como o princípio da legalidade, da razoabilidade e da proporcionalidade, quando aplicáveis ao caso concreto, isso devido ao fato de que muitas autuações são desproporcionais.

Negociação e Regularização

Em alguns casos, a defesa pode buscar a negociação com o órgão competente, visando à regularização do parcelamento do solo de forma consensual. Nesse sentido, é importante buscar alternativas viáveis para adequação do empreendimento às normas urbanísticas, como a realização de obras complementares, ajustes na infraestrutura, pagamento de multas ou outras medidas que possam mitigar as irregularidades identificadas.

Do mesmo modo, a defesa pode argumentar que a regularização do parcelamento do solo, quando realizada de forma adequada, contribui para o desenvolvimento sustentável da região. Isso envolve a criação de oportunidades de emprego, a geração de renda, a melhoria da infraestrutura e o fomento da atividade econômica local. Ao respeitar as normas urbanísticas, é possível conciliar o crescimento econômico com a preservação do meio ambiente.

Importante ainda, apresentar evidências do impacto social e econômico positivo gerado pelo empreendimento objeto do processo administrativo. Isso inclui a criação de moradias, a oferta de serviços básicos, como educação e saúde, e a valorização imobiliária da região. Ao destacar esses aspectos, a defesa busca demonstrar que o parcelamento irregular não representa apenas uma violação à legislação, mas também um benefício para a comunidade local.

Regularização como Solução

A defesa pode propor a regularização do parcelamento como uma solução viável para conciliar as necessidades econômicas e a preservação ambiental.

Nesse sentido, pode ser proposto a apresentação de um plano de regularização, que contemple a adequação do empreendimento às normas vigentes, a realização de investimentos em infraestrutura, a recuperação de áreas degradadas e a adoção de medidas de compensação ambiental.

Assim sendo, as manifestações de defesa podem ressaltar os investimentos realizados pelo empreendedor em práticas sustentáveis, como a implementação de sistemas de captação e reuso de água, a utilização de energias renováveis, a criação de áreas verdes e a destinação correta dos resíduos sólidos. Essas ações demonstram o compromisso do empreendedor em promover o desenvolvimento econômico de forma responsável e em harmonia com o meio ambiente.

Ao buscar a regularização do parcelamento do solo, o loteador reforça o estímulo à legalidade e à segurança jurídica. A adequação às normas urbanísticas e ambientais contribui para a criação de um ambiente de negócios mais favorável, atraindo investimentos e fomentando o crescimento econômico de forma sustentável. Além disso, a regularização evita a perpetuação de situações de ilegalidade e traz estabilidade jurídica para todas as partes envolvidas.

Por fim, os procuradores podem argumentar que a regularização do parcelamento do solo irregular não apenas contribui para o crescimento econômico, mas também traz benefícios sociais e ambientais. Ao promover a regularização, é possível estabelecer diretrizes claras para o uso do solo, implementar medidas de preservação e conservação ambiental, e garantir a segurança das construções e a qualidade de vida dos moradores.

Além disso, a defesa pode ressaltar que a punição excessiva ou a demolição integral do empreendimento irregular pode resultar em impactos negativos para a comunidade e principalmente para o meio ambiente.

Em muitos casos, há famílias que residem nessas áreas e dependem delas para seu sustento e moradia. Portanto, é fundamental buscar soluções que conciliem a regularização dos imóveis com a minimização dos impactos sociais e econômicos.

Diante disso, os requerimentos podem propor a adoção de medidas alternativas que promovam a regularização gradual e ordenada do parcelamento irregular, como a imposição de condicionantes e a exigência de compromissos do empreendedor para a adequação do empreendimento às normas urbanísticas e ambientais.

Tais medidas podem incluir a realização de obras de infraestrutura, a destinação de áreas para preservação, a regularização fundiária, entre outras ações que visem equilibrar o desenvolvimento econômico com a proteção do meio ambiente.

É importante destacar que a defesa em processos administrativos de parcelamento do solo irregular deve ser embasada em argumentos técnicos, jurídicos e socioeconômicos sólidos.

A contratação de profissionais especializados, desde procuradores como consultores ambientais, pode ser fundamental para auxiliar na elaboração da defesa e na busca por soluções adequadas e sustentáveis para o caso em questão.

Em Suma

A defesa em processos administrativos de parcelamento do solo irregular deve considerar tanto o crescimento econômico quanto a preservação ambiental. Buscar um equilíbrio entre esses dois aspectos é fundamental para promover o desenvolvimento urbano de forma sustentável, garantindo a regularização dos imóveis e a proteção do meio ambiente, sempre com respeito às normas legais vigentes, além de terem uma lucratividade maior, ao investir de modo correto no decorrer do projeto.


Leia Também:

Área desmatada
Descubra qual a responsabilidade ambiental do atual proprietário de área desmatada ilegalmente

Assista ao nosso Podcast:

Ou veja diretamente pelo nosso canal do YouTube clicando AQUI!

 

Conheça os autores

Tiago Martins

OAB/PA 19.557 e OAB/SC 68.826-A

Advogado e Professor de Direito Ambiental com maior atuação no contencioso cível, adminsitrativo e penal ambiental, além prestar consultoria e assessoria ambiental. É Mestre em Direito e Desenvolvimento Sustentável: Direito e Políticas Públicas pelo Centro Universitário do Pará – Belém. Conselheiro Seccional Suplente – OAB/PA. Conselheiro Suplente no Conselho de Desenvolvimento Urbano de Belém/Pa. Professor Universitário de Graduação e em Pós-Graduação, focado em Direito Ambiental, Direito Administrativo e Direito Constitucional. Sócio-fundador da Escola de Direito Ambiental. Sócio-fundador do Canal no YouTube e Podcast Direito Ambiental na Prática, maior canal do Brasil sobre a matéria de Direito Ambiental. Professor em preparatórios para concursos públicos e exame de ordem, focado em Direito Ambiental e Ética profissional. Diretor de Ensino do Instituto de Direito Ambiental – IDAM.

Adivan Zanchet

OAB/RS 94.838 e OAB/SC 61.718-A

Advogado e Professor especialista em Direito Ambiental pela Escola Verbo Jurídico, e em Direito Agrário e do Agronegócio, pela FMP – Fundação Escola Superior do Ministério Público. Sócio-fundador e CEO do escritório MartinsZanchet Advocacia Ambiental. Como Advogado Ambiental, tem sua expertise voltada para Responsabilidade Civil Ambiental. Sócio-fundador da Escola de Direito Ambiental. Sócio-fundador do Canal no YouTube e Podcast Direito Ambiental na Prática, maior canal do Brasil sobre a matéria de Direito Ambiental. Vice-Presidente do Instituto de Direito Ambiental (IDAM). Autor de diversos artigos, dentre eles “Responsabilidade Civil Ambiental: as dificuldades em se comprovar o nexo causal”.

Inscreva-se em nossa newsletter e receba nosso conteúdo em primeira mão!

    Conte com nosso conhecimento técnico para seu desenvolvimento estratégico e sustentável.

    Leia também

    Artigo

    Propter Rem: Uma Obrigação em Matéria Ambiental

    A obrigação propter rem é um instituto jurídico que desperta debates acalorados, especialmente quando aplicado no contexto ambiental. Este artigo busca aprofundar essa discussão, abordando tanto sua aplicação na esfera cível quanto na administrativa, destacando suas nuances e implicações legais.

    Artigo

    A imprescritibilidade não alcança a pretensão punitiva do órgão ambiental. Entenda!

    Em junho de 2020 no âmbito do RE 654833 (Tema 999 de repercussão geral, também conteúdo do informativo/STF nº 983) e o Supremo Tribunal Federal referendou a tese de que seria imprescritível a pretensão para a reparação civil de dano ambiental, entretanto esse entendimento não pode ser utilizado como argumento para que os órgãos e entidades ambientais autuem os cidadãos e empreendimentos a qualquer tempo, ignorando sumariamente as regras de prescrição administrativa.

    Artigo

    Posso construir em Áreas de Preservação Permanente – APP?

    O Código Florestal (Lei 12.651/12) estabelece como regra a proibição de construções em Áreas de Preservação Permanente, mas existem exceções. Saiba em quais situações é possível construir em APP!

    Conte com nosso conhecimento técnico e jurídico para o desenvolvimento estratégico e sustentável do seu negócio.

    Conte com nosso conhecimento técnico e jurídico para o desenvolvimento estratégico e sustentável do seu negócio.